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domingo, maio 11, 2003

Capítulo III – Boas lembranças

O cara entrou pela porta do avião com uma expressão de raiva e lágrimas no rosto. A aeromoça que ofereceu jornal para ele com aquele sorriso forçado até se sentiu um pouco desconfortável. Ora, quando as pessoas viajam, em geral elas estão contentes.

Mas ele não. Agora o que seria uma forma de achar a felicidade e paz de espírito se tornou uma viagem apenas ao desconhecido, deixando a verdadeira felicidade para trás. Olhos inchados, uma poltrona na janela e uma voz dizendo o seu destino e a previsão do tempo de viagem: 14 horas. Seriam 14 horas pensando na mesma coisa, e agora não importava mais a quantidade de livros que ele tinha levado para se entreter: ele não os conseguiria ler.

Ao sentar-se, lembro das viagens que fizeram juntos. Viagens curtas, rápidas, dentro do estado onde moravam mesmo. Lembrou também dos lugares para onde não foram juntos, embora tivessem planejado. Era uma pena que tanta coisa tivesse ficado para trás e agora existisse apenas em sonhos lembranças do que poderia ter sido.

Alguém sentou na poltrona ao lado da dele, o olhou e virou o rosto novamente. Alguma refeição foi servida, o sol finalmente foi embora, ele adormeceu, mas não dormiu o bastante. Afinal, ele estava viajando de classe econômica.

(continua)