Reformando
Li ontem o livro Dez (quase) Amores de Claudia Tajes, gaúcha e portoalegrense. Tinha pensado em comprá-lo, mas, devido ao fato de não ter muito dinheiro disponível, somado ainda aos livros nesse país não serem mais artigos populares, resolvi pegar na biblioteca do Colégio de Aplicação da UFRGS.
Na biblioteca, junto a esse livro e outro da própria autora, que eu estou lendo agora, encontrei diversos Machado de Assis, alguns Aluízio Azevedo, uma penca de Érico Veríssimo. Aproveitei para pegar também Helena, do Machado, pois o carinha com quem eu estava saindo antes (aquele do ex-namorado psicopata) disse que era seu favorito. Quando fui retirar, pedi para estenderem meu prazo até sete de janeiro, dia no qual já terei retornado do recesso de natal e ano novo. O bibliotecário diz “sem problemas” e carimba o livro. Então eu tenho uma surpresa: eu fui o PRIMEIRO a retirar aqueles livros, sendo que os dois da Claudia Tajes eram ÚNICOS. Havia mais alguns Helena, mas todos com capa rasgada e destruída. Com certeza, se alguém tivesse interesse em retirá-lo, teria levado o novinho. Fui ver a data de aquisição pela biblioteca: janeiro de 2003. Ou seja: os três livros estavam na estante e, provavelmente, ninguém sequer tocou neles.
Caminhando pelo Campus do Vale, exibindo meus óculos de sol novos, fico pensando nisso. Três livros, sendo um deles um clássico da literatura, sem terem sido retirado nenhuma vez em um ano inteiro, por mais atraentes que pudessem ser as suas capas. Como pode uma coisa dessas? Lembrei-me então de quando eu estava no colégio, primeiro e segundo graus. Quando eu estava na quinta série, lia alguma coisa. Adorava Os Karas do Pedro Bandeira. Lia também as leituras obrigatórias para as aulas de Língua Portuguesa, pois mais indigestas que eu as achasse. Na sexta série, eu lia apenas as leituras obrigatórias e assim foi até o segundo grau. Lá eu deixei de ler qualquer coisa, inclusive as leituras obrigatórias para qualquer aula. Li Brida do Paulo Coelho, pois estava passando por uma fase meio esotérica. E mais nada. Vestibular? Fiz dois. Passei nos dois. Se eu li O Continente? Tenho uma vaga noção da estória do livro. Comecei a ler por prazer depois de entrar na faculdade, pela segunda vez, durante a primeira greve de professores e funcionários que eu fui forçado a presenciar; pelo jornal, é claro. Comecei a ler, por quê? Porque não tinha absolutamente mais nada para fazer e estava trabalhando de office-boy para minha mãe: andava muito de ônibus e walkman me deixava com dor de cabeça. Descobrir Harry Potter também ajudou bastante.
O que eu quero dizer com isso? As bibliotecas dos colégios estão CHEIAS de livros. Livros bons, livros ruins, livros excelentes e livros péssimos. Livros que podem interessar os alunos e livros que podem fazer eles não quererem mais ler nem mesmo a sinopse de um filme no jornal. E em geral é isso que eles fazem. Um jovem que está cursando o Ensino Fundamental ou o Ensino Médio não tem vontade de ler um romance do Machado de Assis ou um poema do Fernando Pessoa (vamos dar alguma credibilidade para os lusos também). Eles também não querem ler Martha Medeiros, Paulo Coelho, Moacir Sclyar, Luis Fernando Veríssimo ou outros contemporâneos, embora esses alguns até leiam. Eles querem é sair de noite na quinta, na sexta e no sábado, com direito a uma volta no parque no final do Domingo, quando eles finalmente acordaram. Querem passar as madrugadas na Internet conversando com os colegas que viram o dia inteiro e vão ver no outro dia também. Eles não querem saber se a Capitu traiu ou não traiu o Bentinho. E eu acho que ela não o traiu porra nenhuma e quem me disser que traiu, que prove!
Mas, voltando para a outra briga, as bibliotecas dos colégios estão cheias. Cheias de coisas mais interessantes, até, que as bibliotecas da UFRGS. Na UFRGS tem bastante gente (?) que quer ler. Nos colégios há, provavelmente, menos gente que quer ler. O que os livros fazem nas bibliotecas dos colégios então?
Você pode não saber onde eu estou querendo chegar. Na verdade, eu também não sei direito. Mas vamos pensar da seguinte forma: tem um monte de gente, as quais você vê e com as quais até convive, querendo ficar com você, mas você não quer nenhuma dessas pessoas. Você quer aquelas outras que você não conhece, que você ainda não viu e que nem sabe se existem. Essas pessoas estão em outros países, outras religiões ou casadas.
Minha proposta? Uma reforma! Tipo a reforma da previdência ou a reforma agrária, mas para livros e pessoas. Vamos tirar de quem tem demais e não usa para quem tem pouco e quer usar. E usar direito!
Ah! E quanto a Claudia Tajes: é uma excelente escritora. Tem um senso de humor sarcástico maravilhoso. Eu recomendo. Mas não espere ser impressionado pelo livro. É uma leitura boa para relaxar.
Li ontem o livro Dez (quase) Amores de Claudia Tajes, gaúcha e portoalegrense. Tinha pensado em comprá-lo, mas, devido ao fato de não ter muito dinheiro disponível, somado ainda aos livros nesse país não serem mais artigos populares, resolvi pegar na biblioteca do Colégio de Aplicação da UFRGS.
Na biblioteca, junto a esse livro e outro da própria autora, que eu estou lendo agora, encontrei diversos Machado de Assis, alguns Aluízio Azevedo, uma penca de Érico Veríssimo. Aproveitei para pegar também Helena, do Machado, pois o carinha com quem eu estava saindo antes (aquele do ex-namorado psicopata) disse que era seu favorito. Quando fui retirar, pedi para estenderem meu prazo até sete de janeiro, dia no qual já terei retornado do recesso de natal e ano novo. O bibliotecário diz “sem problemas” e carimba o livro. Então eu tenho uma surpresa: eu fui o PRIMEIRO a retirar aqueles livros, sendo que os dois da Claudia Tajes eram ÚNICOS. Havia mais alguns Helena, mas todos com capa rasgada e destruída. Com certeza, se alguém tivesse interesse em retirá-lo, teria levado o novinho. Fui ver a data de aquisição pela biblioteca: janeiro de 2003. Ou seja: os três livros estavam na estante e, provavelmente, ninguém sequer tocou neles.
Caminhando pelo Campus do Vale, exibindo meus óculos de sol novos, fico pensando nisso. Três livros, sendo um deles um clássico da literatura, sem terem sido retirado nenhuma vez em um ano inteiro, por mais atraentes que pudessem ser as suas capas. Como pode uma coisa dessas? Lembrei-me então de quando eu estava no colégio, primeiro e segundo graus. Quando eu estava na quinta série, lia alguma coisa. Adorava Os Karas do Pedro Bandeira. Lia também as leituras obrigatórias para as aulas de Língua Portuguesa, pois mais indigestas que eu as achasse. Na sexta série, eu lia apenas as leituras obrigatórias e assim foi até o segundo grau. Lá eu deixei de ler qualquer coisa, inclusive as leituras obrigatórias para qualquer aula. Li Brida do Paulo Coelho, pois estava passando por uma fase meio esotérica. E mais nada. Vestibular? Fiz dois. Passei nos dois. Se eu li O Continente? Tenho uma vaga noção da estória do livro. Comecei a ler por prazer depois de entrar na faculdade, pela segunda vez, durante a primeira greve de professores e funcionários que eu fui forçado a presenciar; pelo jornal, é claro. Comecei a ler, por quê? Porque não tinha absolutamente mais nada para fazer e estava trabalhando de office-boy para minha mãe: andava muito de ônibus e walkman me deixava com dor de cabeça. Descobrir Harry Potter também ajudou bastante.
O que eu quero dizer com isso? As bibliotecas dos colégios estão CHEIAS de livros. Livros bons, livros ruins, livros excelentes e livros péssimos. Livros que podem interessar os alunos e livros que podem fazer eles não quererem mais ler nem mesmo a sinopse de um filme no jornal. E em geral é isso que eles fazem. Um jovem que está cursando o Ensino Fundamental ou o Ensino Médio não tem vontade de ler um romance do Machado de Assis ou um poema do Fernando Pessoa (vamos dar alguma credibilidade para os lusos também). Eles também não querem ler Martha Medeiros, Paulo Coelho, Moacir Sclyar, Luis Fernando Veríssimo ou outros contemporâneos, embora esses alguns até leiam. Eles querem é sair de noite na quinta, na sexta e no sábado, com direito a uma volta no parque no final do Domingo, quando eles finalmente acordaram. Querem passar as madrugadas na Internet conversando com os colegas que viram o dia inteiro e vão ver no outro dia também. Eles não querem saber se a Capitu traiu ou não traiu o Bentinho. E eu acho que ela não o traiu porra nenhuma e quem me disser que traiu, que prove!
Mas, voltando para a outra briga, as bibliotecas dos colégios estão cheias. Cheias de coisas mais interessantes, até, que as bibliotecas da UFRGS. Na UFRGS tem bastante gente (?) que quer ler. Nos colégios há, provavelmente, menos gente que quer ler. O que os livros fazem nas bibliotecas dos colégios então?
Você pode não saber onde eu estou querendo chegar. Na verdade, eu também não sei direito. Mas vamos pensar da seguinte forma: tem um monte de gente, as quais você vê e com as quais até convive, querendo ficar com você, mas você não quer nenhuma dessas pessoas. Você quer aquelas outras que você não conhece, que você ainda não viu e que nem sabe se existem. Essas pessoas estão em outros países, outras religiões ou casadas.
Minha proposta? Uma reforma! Tipo a reforma da previdência ou a reforma agrária, mas para livros e pessoas. Vamos tirar de quem tem demais e não usa para quem tem pouco e quer usar. E usar direito!
Ah! E quanto a Claudia Tajes: é uma excelente escritora. Tem um senso de humor sarcástico maravilhoso. Eu recomendo. Mas não espere ser impressionado pelo livro. É uma leitura boa para relaxar.
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