Passei esse fim de semana inteiro meio resfriado. Agora estou um pouco melhor, felizmente. O pior é que, sempre que estou me sentindo mal fisicamente, isso acaba fazendo com que eu me sinta triste e desmotivado. E o que eu faço? Fico pensando bobagens...
Ontem, quando estava indo dormir, resolvi dar uma olhadinha rápida em algumas coisas que tenho guardadas numa gaveta ao lado da minha cama. Lembro que aprendi no colégio a não usar a palavra “coisas” quando estivesse escrevendo um texto. Infelizmente não tenho palavra melhor para definir tudo o que lá está guardado.
Comecei lendo redações do meu terceiro ano. Quando eu estava no segundo grau (ou ensino médio, já que o nome mudou enquanto eu estava cursando, e só me avisaram depois que eu já tinha terminado; estava escrito “concluiu o ensino médio” no meu diploma) não tinha o hábito de escrever. Escrevia um diário só, em um caderno que está até hoje na gaveta. Naquela época eu também não lia. Como as coisas mudam. E lá vou eu escrever a palavra “coisas” de novo. De qualquer forma, comecei a ler as redações e, de fato, as notas não eram das melhores. Sempre ficava acima da média, mas eu poderia ter escrito bem melhor. Depois que vi as notas da corretora, fiquei feliz. Tinha diversas correções erradas e mal feitas. Na época eu nem me dava ao trabalho de ler as correções. Será que fica chato ir ao colégio reclamar da correção? “Olha aqui, sua analfabeta: adjunto adverbial não é separado obrigatoriamente por vírgula quando está no final da frase, entendeu? Se você não é capaz de corrigir uma redação de um guri de 17 anos, então, por favor, volta pra faculdade de letras e já te matricula nesse cursinho onde você finge que dá aula!”.
Certo, sem raivas descabidas a essa altura do campeonato. Já perdoei a professora de português estúpida que não sabe português. Depois de ler as redações, comecei a ir fundo nas recordações. E digo isso no sentido literal da palavra, pois a gaveta tem uma profundidade de quinze centímetros de cartas, bilhetes, guardanapos, convites para festas, capas de caderno e folhas de agendas com recados. Encontrei inclusive as cartas que a Line me mandou de Florianópolis e o cartão mandado da Austrália. Achei ali no meio também cartas de amor – você pensava que isso não existia mais? – que recebi de algumas pessoas. Amores correspondidos e não correspondidos, por mim ou por eles. Tem uma música, não lembro qual agora, que fala em “love letter that were never send”. Yes, there are some in there, just waiting for the right time to get to the post office.
E achei fotos. Eu tenho outra gaveta para fotos, logo abaixo, onde guardo álbuns e negativos. Mas nessa eu jogo as fotos especiais: fotos minhas, fotos de ex-namorados, fotos três por quatro, em geral fotos ganhadas. Lembro precisamente de todos aqueles momentos.
E vendo todas essas fotos eu me dei conta que mudei muito. Em todas fotos, por mais triste que eu estivesse naquela situação – tem uma, na qual estou beijando uma amiga nos lábios, no banco de trás de um caro, que me fez lembrar precisamente da dor que eu sentia por ter recém terminado um namoro – eu tinha um rosto esperançoso e até mesmo alegre. É um sorriso sacana e jovial, como quem diz “foda-se o mundo inteiro, eu só quero voltar pra casa às 6 da manhã, depois de rir muito aqui, embora eu esteja com febre e faça dois dias que não durmo, pois tive de estudar física para a prova que tenho na segunda-feira”. Fui me olhar no espelho: não foi isso que eu vi. Vi uma cicatriz do lado direito, que lembra uma viagem que a mim nada acrescentou. Vi olhos cansados, que não querem mais abrir tão rápido de manhã cedo, e um nariz levemente virado para a direita, no qual eu nunca tinha reparado antes. Vi linhas de expressão ao lado dos lábios, que antes não estavam tão marcadas.
Voltei à gaveta, guardei tudo e fui dormir. Hoje já estou melhor do resfriado.
Ontem, quando estava indo dormir, resolvi dar uma olhadinha rápida em algumas coisas que tenho guardadas numa gaveta ao lado da minha cama. Lembro que aprendi no colégio a não usar a palavra “coisas” quando estivesse escrevendo um texto. Infelizmente não tenho palavra melhor para definir tudo o que lá está guardado.
Comecei lendo redações do meu terceiro ano. Quando eu estava no segundo grau (ou ensino médio, já que o nome mudou enquanto eu estava cursando, e só me avisaram depois que eu já tinha terminado; estava escrito “concluiu o ensino médio” no meu diploma) não tinha o hábito de escrever. Escrevia um diário só, em um caderno que está até hoje na gaveta. Naquela época eu também não lia. Como as coisas mudam. E lá vou eu escrever a palavra “coisas” de novo. De qualquer forma, comecei a ler as redações e, de fato, as notas não eram das melhores. Sempre ficava acima da média, mas eu poderia ter escrito bem melhor. Depois que vi as notas da corretora, fiquei feliz. Tinha diversas correções erradas e mal feitas. Na época eu nem me dava ao trabalho de ler as correções. Será que fica chato ir ao colégio reclamar da correção? “Olha aqui, sua analfabeta: adjunto adverbial não é separado obrigatoriamente por vírgula quando está no final da frase, entendeu? Se você não é capaz de corrigir uma redação de um guri de 17 anos, então, por favor, volta pra faculdade de letras e já te matricula nesse cursinho onde você finge que dá aula!”.
Certo, sem raivas descabidas a essa altura do campeonato. Já perdoei a professora de português estúpida que não sabe português. Depois de ler as redações, comecei a ir fundo nas recordações. E digo isso no sentido literal da palavra, pois a gaveta tem uma profundidade de quinze centímetros de cartas, bilhetes, guardanapos, convites para festas, capas de caderno e folhas de agendas com recados. Encontrei inclusive as cartas que a Line me mandou de Florianópolis e o cartão mandado da Austrália. Achei ali no meio também cartas de amor – você pensava que isso não existia mais? – que recebi de algumas pessoas. Amores correspondidos e não correspondidos, por mim ou por eles. Tem uma música, não lembro qual agora, que fala em “love letter that were never send”. Yes, there are some in there, just waiting for the right time to get to the post office.
E achei fotos. Eu tenho outra gaveta para fotos, logo abaixo, onde guardo álbuns e negativos. Mas nessa eu jogo as fotos especiais: fotos minhas, fotos de ex-namorados, fotos três por quatro, em geral fotos ganhadas. Lembro precisamente de todos aqueles momentos.
E vendo todas essas fotos eu me dei conta que mudei muito. Em todas fotos, por mais triste que eu estivesse naquela situação – tem uma, na qual estou beijando uma amiga nos lábios, no banco de trás de um caro, que me fez lembrar precisamente da dor que eu sentia por ter recém terminado um namoro – eu tinha um rosto esperançoso e até mesmo alegre. É um sorriso sacana e jovial, como quem diz “foda-se o mundo inteiro, eu só quero voltar pra casa às 6 da manhã, depois de rir muito aqui, embora eu esteja com febre e faça dois dias que não durmo, pois tive de estudar física para a prova que tenho na segunda-feira”. Fui me olhar no espelho: não foi isso que eu vi. Vi uma cicatriz do lado direito, que lembra uma viagem que a mim nada acrescentou. Vi olhos cansados, que não querem mais abrir tão rápido de manhã cedo, e um nariz levemente virado para a direita, no qual eu nunca tinha reparado antes. Vi linhas de expressão ao lado dos lábios, que antes não estavam tão marcadas.
Voltei à gaveta, guardei tudo e fui dormir. Hoje já estou melhor do resfriado.
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