s e l e t a n d o ----> ?


sábado, dezembro 20, 2003

Será que alguem tinha esquecido a novela lixão que eu tava escrevendo? Eu não ... :þ

Capítulo VII – Começando

Depois de um bom dia e uma boa noite de descanso, seus amigos lhe telefonaram para avisar que passariam no seu apartamento para o levar a tomar um café com torradas. O apartamento não era dele, era de outro amigo, alguém que ele tinha conhecido em uma dessas viagens que se faz meio sem rumo. Ele perguntou as horas, o outro respondeu, começaram a conversar e estavam indo para o mesmo bar. Não houve qualquer atração física e, assim, o nascimento de uma grande amizade foi inevitável.

Durante o café com torradas – que, a essa altura, já havia se transformado em café com torradas, bolachas, chocolates, queijos e geléias – conversaram basicamente sobre a viagem e ele teve a oportunidade de contar sobre a despedida no aeroporto. Disse que não esperava que o outro aparecesse sem avisar daquela forma. Também não entendia por que, depois de tantos anos, aquele foi se dar conta do que sentia por ele. E o que era mais incompreensível: por que quem ele realmente queria que fosse dar tchau não fora?

Seus amigos, sempre o apoiando, embora não o conhecessem bem o bastante, diziam que agora uma nova vida começava. Para ele isso não era novidade. Assim como não era novidade, também, que a vida antiga não se apagava. Continuavam todos lá, mesmo que ele não mais estivesse presente. Todos continuariam suas vidas. Talvez algumas pessoas tivessem problemas com a sua ausência, mas para todos esses contratempos existem técnicos que cobram sessenta reais a hora e garantem a satisfação do cliente por até 30 dias. O ruim é o sotaque paraguaio que muitos têm.

Eram já onze horas e ele se deu conta que o tempo passa rápido da mesma forma independentemente do fuso horário em que as pessoas estão. Era Domingo e ele precisava ainda procurar emprego, digo, telefonar para os contatos que já tinha feito e para aqueles que seus amigos haviam indicado. Não poderia ficar morando de favor na casa do seu amigo italiano com sangue francês e remota ascendência portuguesa. Um mês era o limite que ele havia se dado, pois o amigo italofrancoluso disse que ele poderia ir ficando enquanto fosse necessário. Essa gente mestiça é sempre tão acolhedora.

Duas da tarde e o almoço já tinha passado e sido comido por todos em um restaurante grego, o mais divertido da cidade. Fantásticas as dançarinas gregas e, mais fantásticos ainda, os garçons, todos falando seu idioma natal e nativo. Ele não entendia patavinas de grego, mas soube apontar muito bem o que queria no cardápio. Passaram por um cybercafé no centro da cidade e ele verificou seus e-mails: “você tem cinco mensagens novas”. As três primeiras eram de seus melhores amigos que já tinham percebido que ele fora embora sem se despedir. Não respondeu. A outra mensagem era do cara que tinha ido ao aeroporto chorar na sua frente pedindo que ficasse. Não respondeu também. A quinta mensagem era uma daquelas correntes que dizia que ele seria devorado por bodes selvagens se não enviasse para no mínimo vinte pessoas. Felizmente, onde ele estava não havia bodes.

Ele foi, então, levado para conhecer o centro da cidade. Achou tudo muito lindo e bem estruturado. Havia elementos clássicos e contemporâneos misturados, dando um ar de “máquina do tempo” à cidade. Conheceu também algumas partes das zonas suburbanas, menos movimentada e bem mais agradável. Decidiu que era em um lugar assim que moraria, em uma casa pequena e cercada, circundada de árvores.

Oito horas, noite adentrando o dia. “Vamos sair essa noite?”.