Já que eu devia algumas satisfações a todos que lêem esse blog (que eu imagino não serem muitos além dos próprios autores, aos quais eu já dei todas as satisfações necessárias), aí vão elas.
Fui embora de Londres. Eu não agüentava mais fazer sanduíche e ficar 8 horas e meia por dia sem pensar, incluindo o período de 45 minutos que eu tinha de intervalo, no qual tudo que eu queria era ficar sentado no sol respirando um pouco de ar puro e tentando imaginar uma forma de tirar o cheiro de maionese de atum que ficava nas minhas mãos depois de fazer centenas de sanduíches (sem exagero). Eu estava ganhando bem para isso e tinha vários benefícios no trabalho esse, tanto presentes como futuros, mas como eu não tinha planos de me tornar um Team Leader ou um Team Trainer, resolvi ir embora mesmo antes de virar um Team Member Star e tornar-me apto a manusear o fatiador de vegetais.
Enquanto estava no meio do nada, mais precisamente Blasheim, um condado de Lübbecke (não confundir com Lubeck, uma cidade de grande importância cultural e histórica, tanto política como economicamente), tive duas semanas nas quais tudo que eu fiz foi quase exclusivamente pensar na minha vida. Pensei, pensei, pensei e decidi fazer faculdade de Medicina quando voltasse para o Brasil. Portanto, ficaria uns meses na Inglaterra, até setembro, mais ou menos, depois iria em outubro para Florianópolis para fazer um curso de salva-vidas que há anos eu tenho vontade de fazer para, no outro ano, estudar para o vestibular e, ainda um ano depois, entrar na faculdade. Como a vidinha em Londres estava uma monotonia, e minhas costas reclamavam da altura dos balcões onde eu fazia sanduíche, resolvi ir logo embora. Claro, não sem antes dar um pulinho na Alemanha.
Por que Alemanha, de novo? Primeiro: eu precisava fechar minha conta no banco. Segundo: eu tinha de desfazer o meu registro na cidade (não peçam para eu explicar isso agora; tudo será explicado em um post futuro, entitulado "coisas estranhas que só acontecem na Alemanha"). Terceiro: eu tinha de sair para jantar com um seletável em potencial. Para ajudar ainda mais, havia um vôo superbarato de Londres para Köln, cidade vizinha à Essen, exatamente no dia em que terminava o meu aluguel. Não tive dúvidas. Fico uma semana em Essen na casa de uns amigos, saio com o seletável, fecho a conta no banco, aviso o governo que to indo embora da cidade, pego um trem pra Frankfurt, remarco meu vôo para Porto Alegre e no outro domingo já estou no meu quartinho.
A semana em Essen foi maravilhosa. Fazia muito tempo que não achava um seletável tão cheio de atributos. O tempo, então, não poderia estar melhor. Ao contrários das várias camadas de neve que havia enquanto eu morava lá, dessa vez cheguei na cidade junto com uma onda de calor de 30 graus. Dias lindos. A cidade, que antes eu achava HORRÍVEL, estava muito mais colorida e as pessoas, que eram as mais grossas e mal educadas que eu já tinha conhecido, estavam quase, digamos assim, doces. Fiquei até um pouco triste ao ir embora, mas muito feliz também por estar voltando para o Brasil. Cheguei a pensar em ir para a Grécia, fazer um trabalho voluntário cuidando de animais, mas seria muito difícil levar toda minha bagagem acumulada para uma ilhazinha desconhecida, sem falar que eu provavelmente teria de carregar boa parte das minhas coisas a pé por um bom percurso. E indo para o Brasil eu poderia começar a estudar logo para o vestibular, para fazer vestibular já em 2006.
E assim está sendo. As aulas no cursinho já começaram faz mais de um mês. Os professores são quase os mesmes. Os alunos, em sua esmagadora maioria, nasceram quando eu já sabia ler, escrever e calcular raiz quadrada e cúbica e resolver problemas de álgebra (sim, com 10 anos eu já sabia o que era álgebra). Ainda não conversei com muitas pessoas por lá. Tenho a impressão de que eles me acham um pouco estranho. Eu também não faço muita questão de ser um cara simpático. Talvez, pela minha adolescência conturbada, eu hoje sinta um pouco de dificuldade em lidar com essas criaturas demoníacas e meio histéricas, chamadas adolescentes.
Quando entrei na sala de aula no primeiro dia, tive um momento nostálgico. Momento esse que acabou por se extender até a próxima semana. A sala era a mesma na qual eu estudei quando fiz cursinho para o vestibular anterior: mesmas cadeiras, mesmas paredes, mesmo tablado, mesmo quadro, mesma iluminação: tudo igual. Eu podia rever várias cenas pelas quais eu passei há 5 anos: amigos e eu conversando, meu namorado da época me telefonando, matação direta de aula para comer xis no coqueiro. Bons tempos aqueles. Espero que essa fase de cursinho seja tão boa como foi a outra.
Além do cursinho, eu tenho estudado em casa. Sim! Para quem me conhece sabe que isso é algo inédito. Nunca durante todo os meus ensinos fundamental e médio, durante os dois vestibulares, durante meus dois cursos na faculdade e durante todas as cadeiras de curso 2 que eu fiz na UFRGS, eu estudei para alguma matéria em casa. No máximo li algum resumo no ônibus. Ainda lembro de quando estava decorando formas básicas de cinemática no carro enquanto me levavam para a prova de Física. Dessa vez é diferente. Um desvio e meio não basta. Preciso de dois desvios e meio para passar com uma certa vantagem e com tranqüilidade. Portanto, estou estudando em casa. Não tanto quanto deveria, mas bem mais do que estou acostumado.
A vida afetiva tem sido a representação absoluta do vácuo desde que saí de Essen. Em Londres também ela não era movimentada. Ok, lembrem que estou me referindo a vida afetiva, não a sexual. Sair na noite é um saco. Alíás, sempre foi, mas antes eu andava bem mais disposto a suportar música ruim e gente chata por todos os lados. De qualquer forma, a meta desse ano não é seletar um namorado, é seletar uma vaga no curso de Medicina de uma das federais de Porto Alegre. Torçam por mim.
Beijos a todos...