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domingo, dezembro 12, 2004

Ossos do ofício

Festinha de criança. Não ia em uma havia pelo menos uns 5 anos. Mas isso não é por má vontade minha (tá limpo, um pouco é), mais porque desde que virei gente grande eu vivo em um círculo onde as pessoas não tão muito a fim de se incomodar com crianças, pelo menos por enquanto. Não tenho sobrinhos, meus primos começaram a ter filhos só agora e bem longe de mim, meus amigos aprederam a usar métodos anticoncepcionais.

Mas agora tenho chefes e clientes, muitos deles amigos meus, e a presença na festa dos filhos deles é obrigatória. Não interessa se você chegou em casa às 6.30am e tá louco pra dormir até grudar o travesseiro no rosto. Você tem que encarar essa rotina, não tem jeito.

A festa começou às 11.15 da manhã, horário que particularmente achei bem estranho pra uma festinha de criança. Cheguei 12.30 e percebí que tinha atraído todos os olhares e o pensamento geral só podia ser "esse povo da cidade grande nunca chega na hora...". Cumprimento papai e mamãe, e descubro para minha alegria que haviam poucas crianças, todas elas num canto distante brincando com os palhaços que tinham sido contratados. Sento com algumas pessoas que conheço, encaro um cerveja gelada e começo a observar a decoração. Inicia-se aí a minha grande diversão!

O motivo da festa era Cinderela, que estava estampado em todos os lugares, de todas as maneiras possíveis. Mas o foco da minha atenção era particularmente os enfeites de isopor na parede, e chamá-los de toscos é no mínimo um elogio. Uma cinderela cubista, esculpida em isopor me fez pensar "diabos, não tem ninguém aqui que saiba o que é cubismo". O tempo passa e outros detalhes me chamam a atenção, como a torre da rapunzel e um gato de botas, que a pequena aniversariante não largava. Incrível que somente eu percebí. Esse mix deve ser praxe nas festinhas. Devia ser no meu tempo de criança também, mas eu tava sempre ocupado roubando brigadeiros.

O palhaço e seus ajudantes, uma cinderela morena jambo e um príncipe encantado com roupa de marinheiro estão a minha vista durante o almoço, que tava ótimo. Encaro a cerveja como um alívio pras poucas horas de sono passadas na manhã anterior. A ressaca não me atingia, mas estava estampada na cara da cinderela tropical, que bocejava muito durante a brincadeira das crianças.

Mas, já as 15.30pm as crianças davam sinal de cansaço, e aproveitando a escapada dos primeiros pais, saio fora, louco para vir escrever estas palavras. Mas enfim, encarar uma festinha dessas não foi tão ruim, a baixa taxa de natalidade que atinge a classe média brasileira parece que enfim atingiu as festas infantis, que, como percebí nesse caso, estão mais prazerosas para os pais*. Até cantei umas músicas do Balão Mágico no cantinho da boca.

O duro mesmo foi encarar a gravura da Cinderela cubista na parede. Fazer o que? Ossos do ofício...





*PS: Excluem-se os casos de buffet infantil, onde nunca fui e não pretendo ir tão cedo.